O
Professor Plácido Cidade Nuvens traduz o reconhecimento da URCA a grande
contribuição dada por ele a região do Cariri, logo após chegar da Europa, onde
permaneceu por mais de dez anos. Lá, cursou Teologia e Ciências Sociais na Faculdade
Gregoriana, chegando ao mestrado no primeiro curso e ao doutorado no segundo.
Vale ressaltar, também, sua Especialização em Português Superior na
Universidade de Lisboa e Jornalismo na PRODEL, em Roma. Este último é
responsável pela função que exerceu no Jornal L’ Observatore
Romano como redator e revisor da edição portuguesa, tendo também
trabalhado na Rádio do Vaticano.
Plácido
retorna ao Brasil em dezembro de 1973. Em janeiro de 1974 passa a trabalhar na
Diocese do Crato, precisamente na Fundação Padre Ibiapina – FPI, instituição
criada por Dom Vicente de Paulo Araújo Matos, então bispo Diocesano. Nesta
instituição, a contribuição maior consistiu em dar fundamentação filosófica e
teológica a ação de Promoção Humana desenvolvida pela FPI. A ação se voltava
para a quebra do isolamento cultural das comunidades do interior dos municípios
da Diocese do Crato, além de criar condições para despertar o trabalhador rural
para ir buscar a organização da categoria em sindicatos. A Promoção
Humana tinha por lema: “O homem todo e todos os homens".
Ele
trabalhou na fundação durante dez anos, dando incansável suporte teológico,
filosófico e também científico. Um ponto que não posso deixar de ressaltar da
sua atuação na Coordenação Colegiada foi a criação de um setor que expressa,
entre outras coisas: sua preocupação com a memória regional e da instituição, a
valorização dos talentos regionais e sua ampla divulgação, a preocupação com as
riquezas naturais e, por fim, a qualificação continuada de todos aqueles que
faziam a Fundação Padre Ibiapina. O setor recebeu o nome de Centro de Estudos,
Documentação e Pesquisa – CENDEP, onde ele foi coordenador durante vários anos.
Foi
no CENDEP, por iniciativa do Professor Plácido, que o livro ‘CANTE LÁ QUE EU
CANTO CÁ’, de Patativa do Assaré, foi idealizado e editado em co-edição com a
Editora Vozes. Foi também o CENDEP que promoveu a divulgação desta obra,
através da realização de cerimônias de lançamento em quase todos os 30
municípios da Diocese, além da divulgação em periódicos da região e na imprensa
maior, via rádio e jornais estaduais e nacionais. A divulgação tomou uma
dimensão tão ampla que chegou a ultrapassar as fronteiras nacionais.
Na
linha de pesquisa, o CENDEP realizou estudo sobre os Pequenos Negócios não
Agrícolas do Cariri e da Região de Iguatu e Sertões do Salgado com o objetivo
de identificar o perfil do proprietário e do empreendimento. Foi uma pesquisa
realizada em convênio com o CEAG/CEPA com apoio financeiro do POLONORDESTE e
Banco Mundial. Esta pesquisa tinha como finalidade verificar a
possibilidade de instalação do SEBRAE nestas regiões.
Concomitante
ao seu trabalho na FPI, o Professor Plácido integra uma comissão encarregada de
criar o Curso de Direito do Crato. A primeira aula deste curso foi por ele
pronunciada, como professor concursado para as disciplinas de Sociologia e
Introdução à Filosofia. Esse curso, posteriormente, passa a fazer parte da
Universidade Regional do Cariri (URCA).
Como prefeito, cria o Museu de Paleontologia e repassa para a URCA
Após
dez anos de trabalho na FPI, em 1984, o professor Plácido solicita afastamento
e ingressa na política como candidato a Prefeito de Santana do
Cariri. Eleito, inicia uma gestão marcada pela visão de longo
prazo. Entre outras questões estruturais, preocupa-se com o reduzido número de
pessoas com curso superior no município, preocupação que antecede esta fase, mas
que nela se acentua. Cria condições de deslocamento para a Universidade e
Faculdades do Cariri. Com pouco tempo conseguiu aumentar bastante o número de
profissionais qualificados tanto para trabalhar nos colégios da cidade, quanto
em outras profissões como Direito, Economia e Engenharia de Produção.
O
patrimônio fossilífero do município chamou sua atenção. Cria o Museu de fósseis
para, segundo suas palavras “conter a sangria desatada de fósseis e a
depredação de terrenos do patrimônio cultural.” Nessa época os melhores
terrenos fossilíferos haviam sido comprados por um ricaço norte-americano para
a exploração de fósseis. O Prefeito usa o seu poder político e de convencimento
que resulta na doação dos terrenos para o museu. Nova preocupação surge, o
risco de deixar o museu, oficialmente instituído, ao sabor da política. Resolve
doar esse patrimônio a URCA para que fosse cuidado e preservado pela comunidade
acadêmica. Assim ele poderia se expandir e projetar-se a serviço da cultura e
da ciência.
Hoje
o Museu de fósseis da URCA, desde a gestão do Prefeito Plácido, tem projeção
internacional e conta com um significativo número de visitantes nacionais e
internacionais. Tem recebido, com freqüência, a visita de cientistas e demais
estudiosos da área de paleontologia, conforme é possível verificar no livro de
registro de visitantes especiais.
De Professor a Reitor
No
Ensino Superior, o Professor Plácido teve atuação marcante. Galgou a hierarquia
acadêmica gradativamente de professor, a Diretor de Centro, a Vice- Reitor e, por
fim, Reitor. Nessa caminhada ascensional aconteceram fatos que merecem
destaque. Um deles foi sua primeira candidatura a Reitor. A campanha foi
permeada por intensa identificação da comunidade acadêmica com os planos de sua
plataforma política.
A
palavra de ordem era “Reitor eleito, Reitor empossado”. Ele venceu a eleição
com grande maioria de votos, mas por injunções políticas não foi empossado,
causando grande decepção para a maioria da comunidade acadêmica. No segundo
pleito foi eleito e nomeado. Inicia a gestão com o processo de fortalecimento
institucional como universidade pública, gratuita e o desenvolvimento regional
sustentável e includente. Um dos atos de iniciação ao processo citado foi a
abolição de todas as taxas que existiam na Universidade e, também foram
garantidas a gratuidade dos cursos das unidades descentralizadas de Iguatu,
Campos Sales e Missão Velha. Destaca-se, ainda o crescimento da “inclusão
social” nessas unidades, registrando 70% de alunos egressos da escola pública,
o que antes representava 30%.
Nesta
gestão também se destacam a ampliação do Museu de Santana do Cariri, a
conclusão de obras nos campus do Pimenta I e II, a construção do Restaurante e
da primeira parte da Residência para estudantes, reforma do campus do Pirajá em
Juazeiro do Norte para atendimento do Curso de Educação do Campo.
Termina
o seu mandando deixando legados de construções significativas: o Ginásio
Poliesportivo e o prédio para o mestrado em Bioprospecção. No âmbito da
graduação a URCA, no período de 2007-2012, passa de 5.216 alunos para 9.310.
São implantados os cursos de Física, Teatro e Artes Visuais. Na Pós-Graduação
strito sensu houve a implantação do mestrado em Bioprospecção Molecular e do
Doutorado Interinstitucional com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
em Bioquímica Toxicológica, o primeiro deste nível no interior do Estado.
Muitas
outras ações foram realizadas durante a gestão. Ao concluir o período do
reitorado, o professor Plácido se afasta para sua cidade, trabalhando na
direção do Museu de Santana do Cariri.
Títulos
e homenagens
Uma
frase de Albert Ainstein se adéqua muito bem ao perfil do homenageado. Disse
Albert Einstein: “Tente ser uma pessoa de sucesso, mas prioritariamente tente
ser uma pessoa de valor”.
Foi
por ser essencialmente essa pessoa de valor que o Professor Plácido
recebeu os seguintes títulos honoríficos: Prêmio SEREIA DE OURO, do Sistema
Verdes Mares, Prêmio conferido em 1986 como o melhor professor do ano,
pela Associação dos professores do Ensino Superior do Ceará.
Ainda
em 1986 recebeu o Prêmio PREFEITO EXPRESSÃO NACIONAL, homenagem prestada pelo
Jornal “Correio do Recife”.
Em
2007, o Ministério da Cultura confere-lhe o Prêmio Rodrigo Melo Franco, através
do IPHAN, pela Proteção do Patrimônio Natural e Arqueológico, cujo prêmio ele
recebeu das mãos do ministro da Cultura Gilberto Gil.
O
Professor Plácido publicou duas obras sobre Patativa do Assaré. “Patativa e o
Universo Fascinante do Sertão”, análise das críticas feitas ao livro Cante Lá
que Eu Canto Cá, e “Patativa um Clássico” – um estudo dos sonetos em geral do
poeta do Assaré.
Estas
são marcas das pegadas do professor Plácido Cidade Nuvens na região do Cariri.
Por serem profundas, ficarão indeléveis na memória do Cariri, solidificadas no
tempo e no espaço. Em 2003, foi agraciado com o Título de Doutor Honoris Causa,
pela Universidade Regional do Cariri (URCA).
(Bibliografia
elaborada pela Professora da URCA, Edith Oliveira de Menezes, Professora
aposentada da URCA e amiga do Professor Plácido Cidade Nuvens).