Pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), da Universidade Regional do Cariri (URCA) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) publicaram na revista Scientific Reports , um artigo inédito sobre um evento de mortalidade em massa de larvas de um inseto aquático, encontrado na unidade geológica Formação Crato, no Nordeste do Brasil.
A pesquisa apresenta a
primeira análise tafonômica de uma mortalidade em massa de insetos da Formação
Crato, ou seja, conta a história dos eventos que ocorreram antes da fossilização
dos organismos neste sítio paleontológico. Esse trabalho só pôde ser realizado
graças à primeira escavação paleontológica controlada da Formação Crato,
que foi realizada pela equipe do Laboratório de Paleontologia da URCA. “Esse
trabalho foi exaustivo e levou mais de um ano para analisar camada por camada,
algo que foi realizado pela primeira vez nesse importante depósito fossilífero
e contou com o esforço e dedicação de uma grande equipe de professores e
estudantes”, afirma o professor da URCA, Álamo Saraiva.
Segundo a pesquisadora
Arianny Storari, da Ufes, o achado provém de uma camada de calcário laminado,
localmente conhecido como pedra cariri. As larvas de insetos encontradas
pertencem ao grupo Ephemeroptera, conhecidos popularmente como efêmeras. “Essa
localidade é muito rica em fósseis e, portanto, pequenos acúmulos de mais de
três insetos próximos na mesma camada de rochas são comuns nesta unidade, mas
acumulações de 40 insetos, como as apresentadas nesse estudo inédito, são muito
raras no registro fóssil".
Os autores notaram que na
camada de mortalidade em massa desses insetos, as larvas e os peixes eram
menores do que o normal. Isso os levou a hipotetizar que eles poderiam estar
vivendo em uma coluna de água rasa, porque indivíduos mais jovens poderiam
suportar níveis de água mais baixos devido ao seu tamanho pequeno. “Com base
nos padrões anatômicos e de preservação das larvas das efêmeras da família
Hexagenitidae e dos peixes do gênero Dastilbe, foi possível compreender mais
ainda o ambiente pretérito da Formação Crato”, afirma a paleontóloga Taissa
Rodrigues, da Ufes.
Todos os organismos aquáticos
(larvas e peixes) na camada de mortalidade estudada também exibiram excelente
preservação e não apresentaram nenhum tipo de orientação no sedimento, o que
sugere que morreram no mesmo local que viveram. "É esperado que qualquer
transporte tenha consequências para a completude de elementos morfológicos,
principalmente de seres tão frágeis como as efêmeras", explica Storari. A
anatomia das larvas da família Hexagenitidae também demonstra que elas viviam
em águas calmas e mais paradas.
Além dos fósseis, cristais de
halita, um mineral que se forma pela precipitação de sal, também foram
encontrados em camadas próximas ao nível de mortalidade. “Esse fato nos levou a
entender que essas larvas poderiam ter morrido pelo aumento da salinidade, e
que este aumento teria ocorrido devido à diminuição do espelho d'água”, afirma
Renan Bantim, paleontólogo da URCA. As espécies viventes de efêmeras geralmente
não toleram concentrações elevadas de sal, como em águas salobras. Por conta
disso, o aumento da salinidade pode ter sido o causador da mortalidade em massa
dos insetos, mas não necessariamente dos peixes, que foram encontrados em
diversos eventos de mortalidade, em camadas distintas.