Com aproximadamente 93% de seu
território inserido na região do semiárido nordestino, marcado pela
irregularidade pluviométrica e com rochas cristalinas ocupando cerca de 85% de
sua área, o Ceará sofre com escassez de águas subterrâneas próprias para uso.
Além de sucessivas secas, há excesso de salinidade na água.
Esse quadro dá uma ideia da
importância do estudo realizado por pesquisadores do programa de pós-graduação
em Desenvolvimento Regional Sustentável da Universidade Federal do Cariri
(UFCA), com apoio da Funcap. Eles fizeram, durante quatro anos, o monitoramento
de 22 poços na Bacia Sedimentar do Araripe (ASB), na região sul do Estado, onde
o problema de salinidade não é tão grave, mas a água tem sofrido algumas
mudanças com as intervenções causadas pela ocupação humana. Através de
parâmetros de qualidade estabelecidos e aceitos mundialmente para análise de
recursos hídricos, foram feitas medições dos índices de fósforo, nitrato,
coliformes fecais, pH e turbidez.
O trabalho contou com apoio da
Funcap através do programa Bolsa de Produtividade em Pesquisa, Estímulo à
Interiorização e à Inovação Tecnológica (BPI), que viabilizou recursos para
atividades de campo, bolsas de iniciação científica e financiamento de insumos.
Um dos principais resultados da pesquisa foi a publicação do artigo Avaliação
da qualidade da água subterrânea da bacia sedimentar do araripe no semiárido
brasileiro no “Journal of Hydrology”, principal periódico da área de Hidrologia
no mundo.
De acordo com o professor
Francisco José de Paula, responsável pelo projeto “Integração de indicadores
biogeoquímicos na avaliação dos impactos das alterações regionais sob a
qualidade ambiental em bacias de drenagem sob clima semiárido”, que foi
financiado pelo BPI, além dos dados obtidos sobre a qualidade da água, que
podem servir como fonte de informação para as políticas públicas de gestão das
águas subterrâneas do Cariri, a pesquisa foi importante para a formação de
recursos humanos.
Participaram do trabalho
bolsistas de iniciação científica, dois alunos de mestrado e quatro
pesquisadores, sendo uma da Argentina.
A área de interesse
corresponde ao setor oriental da Bacia Sedimentar do Araripe. Tem uma extensão
de 6.500 km² e população estimada de pouco mais de um milhão de habitantes. Os
resultados da pesquisa mostraram que as águas de todos os poços estudados têm
pelo menos um elemento desaconselhável para o consumo humano em quantidade
acima dos limites estabelecidos pela regulamentação vigente em órgãos
sanitários.
A qualidade da água é afetada,
de acordo com os pesquisadores, principalmente em poços localizados em áreas
altamente urbanizadas e agrícolas. Apesar disso, os resultados obtidos
mostraram que 18,2% e 81,8% dos poços tinham águas com qualidade regular e boa,
respectivamente, o que não inviabiliza o consumo desde que a água seja
submetida a um tratamento convencional. Mas segundo Francisco de Paula, eles
servem como um alerta, para que sejam elaboradas políticas de gestão que não
permitam o aumento dos índices de elementos nocivos.
“Apenas os parâmetros
físico-químicos observados não dizem se a água é boa ou ruim. Além disso, as
pessoas podem consumir a água da região pesquisada, não há perigo. Mas a cidade
de Juazeiro do Norte já tem alguns poços inviáveis para uso pela contaminação
de nitratos. Esses nem foram avaliados pelo trabalho”, explica ele.
No caso de saneamento das
áreas com os poços contaminados, é possível reverter a situação em médio e
longo prazos. Para evitar que os poços monitorados na pesquisa cheguem a esse
estado, os resultados demonstraram a necessidade de adoção de medidas de controle
e redução de nutrientes e cargas orgânicas, principalmente em setores urbanos.
Entre as ações prioritárias está a adequação dos sistemas de tratamento de
esgoto gerados nos municípios da bacia sedimentar do Araripe.
Ascom Funcap